As origens do perigo alemão no Brasil.

  

 

 

RESUMO – Este artigo analisa as possíveis origens dos boatos que rondavam o Brasil, sobre um plano ordenado por Adolf Hitler, para invadir o país durante a segunda guerra mundial. Esses boatos eram provenientes dos inimigos da Alemanha, pois a Inglaterra e a Alemanha tinham rivalidades na Europa desde o século XIX. Na época de guerra, a Inglaterra mandou um documento ao governo brasileiro alertando o país de uma invasão alemã. Não existem evidências dessa invasão, mas os brasileiros em época de guerra viveram dias de medo. Porém, o perigo alemão foi pretexto e justificativa para o governo brasileiro, ofertar posturas de racismo, violência e perseguição com os germânicos e seus descendentes residentes no país. Perseguidos, humilhados, excluídos e roubados, pelo governo brasileiro e distantes de sua pátria, os germânicos e seus descendentes, passaram um período de terror, medo, violência policial, tratamento sub-humano e prisões em terras brasileiras, além da proibição de professar sua cultura, configurando crimes contra os direitos humanos dos estrangeiros, que ficaram silenciados na história brasileira, e deixaram ressentimentos e revoltas na comunidade germânica no Brasil. 

 

 

PALAVRAS-CHAVE: Violação de direitos humanos- Germânicos- Perseguição. 

 

 

 

INTRODUÇÃO 


O presente artigo é uma pesquisa bibliográfica, com o objetivo de responder quais as origens dos boatos que rondavam o Brasil desde o século XIX de uma invasão alemã no país, o chamado perigo alemão. 

O perigo alemão se intensificou na época da segunda guerra mundial, com a ascensão de Adolf Hitler e seu governo nazista na Alemanha. O Brasil neste período de 1930-1940, possuía colônias germânicas que ainda viviam suas práticas culturais livremente, e muitos desses imigrantes apoiavam o nazismo alemão, como os italianos no país, apoiavam o fascismo, havia no Brasil núcleos nazistas e fascistas na época do estado novo de Getúlio Vargas. 

A partir dos anos de 1942, o Brasil declarou guerra ao eixo (Itália, Alemanha e Japão), e proferiu medidas repressivas contra os imigrantes germânicos no país, com a justificativa de um plano do füher alemão de invadir o país durante a segunda guerra mundial. Uma invasão que nunca aconteceu. Mas, de onde partiram esses boatos? 

Mesmo não tendo evidências de um ataque comandado pela Alemanha, todos os imigrantes alemães sofreram um período de verdadeiro terror no país, onde tiveram seus bens bloqueados, foram presos em confinamento, sofreram perseguição e violência policial, foram excluídos socialmente, proibidos de frequentar escolas e igrejas, e ainda o Brasil os proibiu de professar sua cultura. Crimes estes, contra os direitos humanos dos imigrantes acabaram justificados e silenciados pelo governo brasileiro.

 

 

 

AS ORIGENS DO PERIGO ALEMÃO 

 

A ideia de um perigo alemão surgiu na Europa no século XIX, por conta das rivalidades entre os países europeus, por colônias de exploração. Com a entrada da Alemanha para os blocos imperialistas, na década de 1870, a Alemanha começou a anexar territórios e, os franceses e os britânicos entenderam a entrada da Alemanha para os blocos imperialistas como um perigo, pois a Alemanha ainda não tinha grande número de colônias de exploração. 

Outras questões era que a Alemanha no século XX era a nação mais poderosa na Europa nos ramos industriais e de tecnologia, mesmo a Inglaterra sendo a pioneira na revolução industrial com a criação da máquina a favor, a Alemanha conseguiu se desenvolver mais que a Inglaterra nos ramos industriais, se destacando pela descoberta do corante químico, enquanto a Inglaterra era uma potência financeira. 

Os países da Europa imperialistas como França e Inglaterra começaram a divulgar tanto na Europa, quanto no Brasil um suposto perigo alemão. Na Europa havia rivalidades entre as nações, a Alemanha era um país em potencial desenvolvimento, que ultrapassou a Inglaterra e a França que eram polos industrias. E, como o país começou a anexar territórios no século XIX, surgiram as rivalidades por colônias de exploração, segundo o professor Everaldo de Oliveira Andrade, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP2, “Há uma insistência da França de que o tratado impusesse pesadas perdas e reparações de guerra à Alemanha, em uma tentativa de atrasar o seu desenvolvimento econômico, que já era bem superior nesse período em relação à própria França e a outros países europeus”.  

 

O projeto brasileiro de colonização com alemães não foi consensual, desde o seu início. Por isso, sempre houve críticas e observações desabonadoras em relação a eles e aos seus descendentes estabelecidos no país. Esses sentimentos foram reforçados e se difundiram, sobretudo, a partir de 1871, quando os vários Estados alemães foram unificados num país unitário, o Império Alemão. Esse império estava chegando tardiamente ao “mercado” de colônias fora da Europa, e poderia estar arquitetando objetivos inamistosos em relação ao Brasil, podendo aproveitar-se, para esse fim, dos seus compatriotas aqui estabelecidos (GERTZ, p. 15, 2015). 

Desde o século XIX rondavam boatos no Brasil que a Alemanha pretendia invadir o país, pois aqui no Brasil havia colônias alemãs e no ano de 1870 houve a unificação alemã e o país entrou para o bloco imperialista e começou a anexar territórios. 

Assim, nos aproximadamente 25 anos que vão de 1890 até o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, a discussão em torno daquilo que se denominou “perigo alemão” transformou-se em algo cotidiano, ao menos para brasileiros mais ou menos informados. Jornais chegaram a manter colunas permanentes sobre o tema (GERTZ, 1998a), destacados intelectuais da época participaram do debate. Basta citar o pequeno livro do conhecido intelectual Sílvio Romero (1906), intitulado O alemanismo no sul do Brasil: seus perigos e meios de os conjurar. Esse clima resultou numa série de atos contra as referidas populações, durante o assim chamado primeiro conflito mundial, conhecidos por pessoas mais ou menos informadas, e mais recentemente detalhados numa tese de doutorado de Stefan Chamo (GERTZ, p. 15, 2015). 

 

              Os boatos de uma invasão alemã no Brasil ganham mais força com a ascensão de Adolf Hitler ao governo da Alemanha em 1933, e com a eclosão da segunda guerra mundial. Neste período as colônias alemãs localizadas no Sudeste e Sul brasileiro hastearam a bandeira nazista e, nestas colônias haviam alemães que eram afiliados ao partido nazista, e que ajudavam financeiramente o partido na Alemanha. 

Como relatam os próprios alemães que moravam no Brasil, a fama do füher chegou ao Brasil e, o povo alemão venerava Hitler por ter devolvido o emprego e a dignidade ao seu povo. No documentário, “O integralismo e o nazismo na região de Blumenau”3, um descendente de alemão, relata que Hitler teria convidado os alemães a voltarem a seu país de origem, pois havia empregos posto que os mesmos haviam saído da Alemanha no século XIX, devido à crise na Europa. 

Nos próprios relatos dos descendentes de alemães percebemos a admiração a Adolf Hitler: 

Os alemães residentes aqui no Brasil, [...] se sentindo mal aceitos pelo povo nativo da região, vendo os prodigiosos progressos que o Führer conseguia, passaram a venerá-lo, e não foram poucos os que se inscreveram no “partido” do seu herói, e como o número de inscrição no partido mandava [??] muito, com os números mais baixos levando privilégios, a pressa de se inscrever aumentava, e em pouco tempo tínhamos aqui em Itoupava II um núcleo de valorosos defensores das ideias do seu fantasioso Führer (ARNOLD, 1986, p. 27-36-37); (ZANELATTO, GONÇALVES, p. 15, 2013). 

Por causa destas colônias alemães no Brasil, o governo brasileiro começou a se preocupar com uma possível invasão e anexação das terras brasileiras à Alemanha, com fortes boatos foram no Brasil. 

No ano de 1939, o governo da Inglaterra envia ao Brasil um documento sobre ameaças da Alemanha invadir o Brasil, o autor do livro “Relações militares EUA x Brasil de 1939-1943” Giovanni Latfalla fala ter encontrado este documento nos arquivos do exército brasileiro onde o autor relata que este documento chegou ao ministro da guerra Eurico Gaspar Dutra antes da segunda guerra mundial começar e, ao receber envia à Vargas. 

Na década de 1930-1940 houve afiliados ao partido nazista no Brasil, porém não eram todos os alemães que moravam no Brasil que apoiavam o nazismo.  O que o Brasil e a mídia não mostram, é que por um lado era vantajoso para as colônias alemãs o apoio ao nazismo, pois os imigrantes saíram da Europa em busca de melhores condições de vida, com a promessa brasileira de que aqui poderiam prosperar financeiramente, e quando estes chegam no Brasil, o país os deixa a mercê da própria sorte. 

Os imigrantes europeus foram trazidos ao Brasil, no século XIX, com o objetivo de desenvolver a economia do país. Com a chegada de Hitler a presidência da Alemanha, o füher ajudou financeiramente os imigrantes no país, um exemplo, era a preocupação de que os alemães tinham com a educação de seus filhos e, enquanto o Brasil não providenciou escolas com professores para ensinar os filhos dos imigrantes, sendo as primeiras escolas improvisadas pelos próprios imigrantes, Hitler financiou a educação para os imigrantes no Brasil. 

Uma preocupação constante do governo nazista era com as crianças que pertenciam as novas gerações e iriam levar a ideologia hitlerista no futuro. Por intermédio do consulado, alguns professores foram enviados da Alemanha para trabalharem no Brasil em escolas germânicas, durante um prazo de quatro anos, em média. Esses professores teriam a missão de educar as crianças alemães de acordo com as ideias nazistas. Contabilizavam 100 professores integrantes desta associação no Brasil (DIETRICH, Ana Maria, p. 296, 2007). 

 

          Em entrevista, a filha de Cossel, o líder nazista no Brasil, fala que seu pai ajudava os alemães no Brasil: “Nós recebíamos dinheiro e roupas da embaixada alemã. Ele sempre cuidou dos alemães no Brasil” (DIETRICH, p. 348, 2007). 

Esse relacionamento dos imigrantes com a Alemanha preocupava o governo brasileiro, rondavam boatos no Brasil de uma possível invasão de Hitler às terras brasileiras, mas muitos historiadores contemporâneos não acreditaram nesta hipótese, pois não há evidências. 

Considero que o assimu chamado “perigo nazista” no “sul” do Brasil sempre foi – e continua sendo – superdimensionado. Em primeiro lugar, até hoje não foi apresentada nenhuma evidência de que a alta cúpula nazista alemã em algum momento tivesse sequer pensado na propalada invasão e anexação de partes do Brasil. Uma única fonte contemporânea afirmava isso – um livro do dissidente Hermann Rauschning –, mas ela foi, entrementes, desmascarada como fraude. Arquivos gaúchos recentemente localizados, mas ainda não avaliados, lançam alguma luz sobre as motivações do autor. Claro, se Hitler tivesse vencido a guerra, teria ocupado o mundo todo, mas a existência do suposto projeto nesse sentido em relação ao “sul” do Brasil se baseia muito mais no imaginário que em fatos concretos (GERTZ, p. 19, 2015). 

 

A mesma coisa acontecia com os japoneses no Brasil, também havia uma preocupação de que os japoneses viessem a invadir o país durante a segunda guerra mundial. Mas a questão ainda paira no ar sobre o dito perigo alemão no Brasil, justificativa para o governo brasileiro cometer sérios crimes contra os direitos humanos dos estrangeiros, principalmente durante a segunda guerra mundial, crimes estes que ficaram esquecidos, ou melhor, foram silenciados pelo governo brasileiro. 

 

Anos de terror: perseguição, prisões e violência policial aos alemães no Brasil 

 

Os imigrantes germânicos como vimos acima, sempre sofreram perseguição e estiveram na mira do governo brasileiro, mesmo tendo uma grande contribuição para o desenvolvimento econômico do Brasil, desde a agricultura até o processo de industrialização. Na visão do desenvolvimentismo capitalista, foram amordaçados, violentados, roubados financeiramente, e tiveram sua cultura destruída pelo projeto de nacionalização brasileiro, e esses crimes ficaram esquecidos na história brasileira. 

Perseguidos no Brasil, com a eminente “ameaça alemã”, o dito perigo alemão no Brasil na época do estado novo de Getúlio Vargas nas décadas de 1930-1940 ganha força no período da segunda guerra mundial, pois com o pretexto de uma invasão de Hitler que nunca foi comprovada, e acusados de nazistas e fascistas, o governo brasileiro definiu várias medidas repressivas que culminaram em crimes contra os direitos humanos dos germânicos. 

Em 1939 começou a segunda guerra mundial e, em 1942 o Brasil entra na guerra ao lado do bloco dos aliados, declarando guerra ao bloco do eixo (Alemanha, Itália e Japão). Nazi-fascista, o governo de Getúlio Vargas apoiou os Estados Unidos com o interesse de redefinir suas relações internacionais e por este motivo, os estrangeiros alemães, italianos e japoneses residentes no Brasil sofreram perseguição pelo governo de Vargas. 

 As autoridades brasileiras criaram uma política de nacionalização, esse processo tinha como proposta principal construir um país patriota e uma identidade nacional, pois o Brasil era um misturado de várias etnias diferentes, cujo objetivo era unir todas em um única identidade e nação, mas o principal alvo da campanha de nacionalização foram os descendentes dos “inimigos” na guerra aqui presentes, que passaram por um processo de abrasileiramento, com uma forte onda de repressão e perseguição à suas práticas culturais, políticas e econômicas de origem que foram combatidas em todo território brasileiro. 

As autoridades brasileiras por meio da campanha de nacionalização criaram várias medidas de repressão, um dos meios principais desta campanha foi o ensino educacional nas escolas, pois a escola foi um meio para disciplinar pessoas e, neste período houve uma reforma educacional em prol dos interesses republicanos e do projeto de nacionalização. 

As escolas alemãs foram fechadas, pois falavam e ensinavam a língua alemã, e seus conteúdos todos modificados pela nova política, foram organizados disciplinas, conteúdos e métodos que afirmassem fatos e disputas selecionados da república criando uma cultura e identidade nacional, pois nestas escolas criadas pelos próprios imigrantes, muitas delas tinham professores vindo a pedido de Adolf Hitler, ensinar os filhos dos imigrantes a ideologia nazista. 

A região Sul brasileira foi a mais perseguida pela campanha de nacionalização, pois no Sul estavam a maior quantidade de descendentes de imigrantes italianos e alemães. Muitos desses eram nazistas e apoiavam financeiramente o partido nazista e viviam segundo seus costumes europeus, falavam em alemão e italiano e haviam escolas que ensinavam e missas que eram ministradas nas línguas estrangeiras.  

As medias de repressão contra as comunidades germânicas era uma imposição dos Estados Unidos, inimigos de guerra da Alemanha. Os estrangeiros tiveram suas casas revistadas, as escolas alemãs foram fechadas, igrejas destruídas, e todos os pertences encontrados que remetiam aos inimigos de guerra foram queimados, muitos tiveram pertences de família perdidos, e foram presos nos campos de confinamento. Para ser preso, era necessário apenas falar o idioma estrangeiro. 

O governo de Vargas perseguiu todos os estrangeiros alemães e seus descendentes, nem todos apoiavam o nazismo, mas todos foram perseguidos. Violentados, amordaçados e roubados, longe de sua pátria, os germânicos no Brasil passaram pelo processo de abrasileiramento, deixando revoltas e ressentimentos nos estrangeiros e seus descendentes no Brasil, pois nem sua cultura podiam mais professar. 

Segundo testemunhos dos próprios alemães, os estrangeiros sofreram violência principalmente por parte da polícia, "perseguição, torturas, físicas e psíquicas por parte da polícia ocorreram em grande quantidade incluindo algumas mortes" (GERTZ, p. 22, 2015). 

 Uma das formas de repressão da campanha de nacionalização de Getúlio Vargas foram os campos de confinamento, que eram campos de trabalho forçado. Nesses campos havia uma sobrevivência sub-humana, no campo de concentração do Rio Grande do Sul a Colônia Penal Daltro Filho em Charqueadas há relatos de maus-tratos incluindo uma morte. A morte relatada não provém de violência e sim de falta de atendimento médico. 

Nos campos de concentração para “súditos do eixo” no Brasil eram comuns doenças, devido às dificuldades em se conseguir assistência médica satisfatória. Inúmeros são os registros com referência ao assunto: desde as dificuldades de tratamento para os internos de Trindade e a epidemia de disenteria em Ilha Grande, até casos de liberdade por motivos de saúde, falecimentos, incluindo suicídios, e internamentos em manicômios devido a doenças nervosas (PERAZZO, p. 187, 2009). 

 

Mas, fora do confinamento havia episódios de violência física, psicológica e humilhação por parte da polícia, pois invadiam a casa dos imigrantes, queimavam seus pertences que remetiam ao seu país de origem e, alguns relatos falam que se encontrassem algum papel em língua estrangeira, a polícia os fazia engolir com óleo de rícino. Além de terem suas casas apedrejadas, os chamavam de nazistas. 

Porém, nem todos os imigrantes apoiavam o partido nazista. As crianças também sofriam violência nas escolas, eram proibidas de falar alemão ou italiano, além de apanharem e levarem cuspidas, eram proibidos de frequentar as igrejas. 

As autoridades brasileiras bloquearam seus bens, os deixando na miséria, roubaram suas empresas, carros e dinheiro e, apenas no final dos anos 50 o Brasil restituí os bens dos alemães apreendidos durante a segunda guerra mundial. 

Abaixo temos imagens da lista dos compôs de concentração no Brasil entre os anos de 42 a 45. 

 

Imagem 1: Lista de campos de concentração no Brasil no período de 1942- 1945. 


Fonte: Lista retirada do livro Prisioneiros da guerra de Priscila Perazzo, p. 98 e 99 



A democracia sentada nos bancos dos réus: a violação dos direitos humanos dos alemães no Brasil e o silenciamento desses crimes pelo governo brasileiro 

 

Os crimes de violência cometido pelo Brasil aos imigrantes foram silenciado pelo governo brasileiro, que tentou passar uma imagem durante a guerra na mídia internacional de que os campos de confinamento para seus inimigos de guerra eram como uma colônia de férias, diferente do nazi fascismo que mantinha seus prisioneiros de guerra sob maus tratos, "as autoridades brasileiras justificavam criando mitos ou construções de imagens estereotipadas como uma colônia de férias" (PERAZZO, p. 248). 

Porém, os próprios alemães presos e familiares, escreveram cartas durante o confinamento à embaixada espanhola, que era responsável pelos imigrantes no Brasil. As queixas variavam desde a impossibilidade de visitar os presos, pedidos de solturas para os estrangeiros por questões financeiras, falta de atendimento médico, falta de camas para todos os presos, má alimentação e os campos eram lugares insalubres e sem higiene, além de sofrerem tortura principalmente por parte da polícia. 

As cartas escritas pelos alemães no Brasil para a embaixada espanhola foram encontradas pela professora espanhola Elda Gonzales Martinez, quando realizava pesquisas no arquivo central do governo em 2015. Atualmente estão disponíveis no Instituto Carl Hoepcke em Florianópolis, no estado de Santa Catarina. 

O pretexto para os crimes ficou justificados como uma ameaça à segurança nacional que os alemães representavam, pois os nazistas tinham o objetivo de invadir o Brasil, já que tinham muitos adeptos ao partido no país, devido as colônias alemãs. Porém nunca houve uma tentativa de invasão da Alemanha e nem do Japão ao país, na época da guerra, haviam simulações de um ataque aéreo e subaquático. 

 Historiadores contemporâneos brasileiros não acreditam que a Alemanha tinha intenção de invadir o Brasil e, por falta de evidências, cita-se o historiador gaúcho René Gertz, no seu artigo A segunda guerra mundial nas regiões de colonização alemã do Rio Grande do Sul, citado no início desse trabalho, o autor não acredita na invasão alemã e, as obras da historiadora catarinense Marlene de Fáveri também não acreditam em uma invasão alemã no Brasil. 

Outro historiador que desmente esses boatos em seu livro é o historiador gaúcho Nelson Adans Filho em seu livro A segunda guerra entre nós no sul do Brasil, o autor relata em seu prefácio: 

Para nós, hoje, é impossível acreditar que a Alemanha ou Hitler ordenassem a invasão ao Brasil. Beira ao ridículo, hoje. Mas mesmo que isso jamais tenha passado na cabeça de Hitler para nossos antepassados era uma possibilidade real, que trazia e trouxe uma série de consequências de os matizes (FILHO, p.9, 2019). 

 

Porém estes crimes de violência policial, prisões em confinamento, falta de atendimento médico, sobrevivência sub-humana nos confinamentos, trabalho forçado, segregação social, por motivação étnica configuram vários crimes como crimes de racismo, e violação dos direitos humanos. São crimes contra a integridade física e moral da comunidade germânica no Brasil. 

Ao final da segunda guerra mundial a social democracia, criou a declaração dos direitos humanos reiterando todas as torturas a que foram submetidos os imigrantes no Brasil. 

Artigo 5 Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. 

Artigo 9 Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado (Declaração dos direitos humanos). 

 

Mesmo que durante a guerra e depois da guerra, a social democracia defendesse os direitos humanos e o pacifismo, cometeram vários crimes em diversas esferas com seus inimigos de guerra, e silenciaram com o tempo, os justificando com o falacioso perigo alemão. 

Será mesmo que existia um perigo alemão no Brasil? mesmo não tendo evidências de uma invasão alemã no país, ou era apenas uma forma de difamar a Alemanha, encontrada pelos seus concorrentes europeus a Inglaterra, a França e os Estados Unidos, ou seja, os países que defendiam a social democracia. 

Porém esses boatos que rondavam o Brasil por intermédio da Inglaterra, culminaram em crimes graves contra a comunidade alemã, que contribuiu em peso para o desenvolvimento econômico do país e, não estão presentes nos currículos escolares, nem nas mídias brasileiras e, é evidente, que esse período causou na comunidade germânica e seus descendentes, traumas, dores e revoltas com o país, tanto pelas perseguições, quanto pela destruição de sua cultura.  



CONCLUSÃO

 

Ao decorrer do texto fez-se uma análise das origens dos boatos de um persistente perigo alemão no Brasil. Essa ideia de perigo alemão está atrelada as rivalidades da Alemanha com os países imperialistas, como França e Inglaterra no século XIX desde a sua unificação. 

 Desde a unificação alemã se tem a preocupação no país de a Alemanha anexar parte do território brasileiro, com a ascensão do nazismo alemão, e o envolvimento das colônias ítala-germânicas com o nazi fascismo europeu. Esses boatos de uma possível invasão de Hitler ganham força, porém não passavam apenas de boatos, não existe evidências de uma invasão. Porém o perigo alemão foi usado como pretexto para se cometer vários crimes contra os germânicos, que acabou silenciado no tempo pelo governo brasileiro, deixando uma revolta imensa nos estrangeiros. 

Acusados de nazistas e fascistas, nem todos apoiavam o nazi fascismo, mas todos os imigrantes e descendentes sofreram represálias em terra distante de sua pátria mãe. Conclui-se que, os crimes cometidos aos alemães e italianos no Brasil deveriam ser uma questão de pauta pública, devendo-se ter uma lei com a inclusão destas medidas repressivas nos currículos escolares de história.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS  

 

ZANELATTO, João Henrique; GONÇALVES, Renan Borges. Campos de concentração/confinamento no vale do Araranguá durante a segunda guerra mundial. Oficina do historiador, Porto Alegre, v.1, nº6, p. 3-22, jan/jun. 2013. 

FÁVERI, Marlene. Memórias de uma (outra) guerra: Cotidiano de medo durante a segunda guerra mundial em Santa Catarina. Nº de págs. 392. UFSC, Florianópolis, 2002. 

FILHO, Nelson Adams. A II guerra entre nós no sul do Brasil. 1º edição. Porto Alegre: Edigal, 2019. 

PERAZZO, Priscila Ferreira. Prisioneiros da guerra: Os súditos do eixo nos campos de concentração brasileiros (1942- 1945). 1º edição. São Paulo: Humanitas, 2009. 

GERTZ, René Ernaini. A segunda guerra mundial nas regiões de colonização alemã do Rio Grande do Sul. Revista acadêmica licencia e acturas, Ivoti, vol. 3, nº 2, p. 15-25, julho/dezembro. 2015. 

DIETRICH, Ana Maria. Nazismo tropical? O partido nazista no Brasil. 2007. Nº de págs. 301. Tese de doutorado- USP, São Paulo, 2007. 

LATFALLA, Giovanni. Relações militares EUA x Brasil de 1939- 1945. 1º edição. Rio de Janeiro: Gramma, 2019. 

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