A ALEMANHA TENTOU UMA INVASÃO AS TERRAS BRASILEIRAS?

 


Neste ensaio farei uma análise de fontes orais e bibliográfica que se tem disponível sobre os boatos que rondavam no Brasil desde a unificação alemã no século XIX, de uma possível invasão alemã as terras brasileiras, que se intensificam no período da segunda guerra mundial.  Me embasarei nos estudos acerca da memória e história oral, para fazer a reflexão de questões a ser respondidas no  decorrer deste artigo:

- Existem provas e documentos sobre uma possível invasão alemã ao Brasil, principalmente no contexto da segunda guerra mundial?

- Como surgiram esses boatos?


Desde o século XIX já rondavam boatos no Brasil de que a Alemanha pretendesse invadir o país, pois aqui no Brasil havia colônias alemãs e no ano de 1870 se tem a unificação alemã, o país entra para o bloco imperialista e começa a anexar territórios.

Na década de 1930 estes rumores se intensificam, por conta dos contratos de compensação, que eram acordos comerciais de troca, que Adolf Hitler estabeleceu com os países da América como Brasil, o Brasil exportava produtos agrícolas como café e algodão, e em troca Getúlio Vargas importava armamentos bélicos, que era seu objetivo, equipar o exército brasileiro.  Essas relações comerciais começou a preocupar os Estados Unidos.

No ano de 1939 o governo da Inglaterra envia ao Brasil um documento  sobre ameaças da Alemanha invadir o Brasil, o autor do livro “Relações militares EUAx Brasil de 1939-1943” Giovanni Latfalla fala ter encontrado este documento nos arquivos do exército brasileiro, o autor relata que este documento chega ao ministro da guerra Eurico Gaspar Dutra, antes da segunda  guerra mundial começar, ao receber envia a Vargas. O autor também relata em seu livro que em 11/10/1940 o governo britânico afunda um navio alemão  vindo para o Brasil com armamentos bélicos, com mais de mil canhões, os ingleses afirmavam que além dos armamentos bélicos, este navio trazia propaganda nazista que poderia resultar em uma revolução, este eram os argumentos dos britânicos, mas na verdade este afundamento representou um grande prejuízo ao governo brasileiro.

Com a eclosão da segunda guerra mundial existe vários testemunhos de brasileiros que recordam do medo que rondava no país, de um ataque alemão, no vídeo “A invasão da ilha de Santa Catarina” (o link esta nas referências) a historiadora e especialista em segunda guerra mundial Marlene de Fáveri, fala que havia simulações de um possível ataque aéreo e de submarinos ao Brasil para colocar medo nos brasileiros durante a guerra, neste vídeo tem uma moradora de Florianópolis que relembra o medo que os brasileiros tinham de uma possível invasão alemã. 

A questão sobre ataques de submarinos usarei o livro “A II guerra entre nós no sul do Brasil” do historiador  Nelson Adams Filho, o autor começa  na introdução com a citação “ Para nós, hoje, é impossível acreditar que a Alemanha ou Hitler ordenassem a invasão ao Brasil. Beira ao ridículo, hoje. Mas mesmo que isso jamais tenha passado na cabeça de Hitler para nossos antepassados era uma possibilidade real, que trazia e trouxe uma série de consequências de todas as matizes" (FILHO, pág.9).

O autor trás em seu livro uma série de documentos de comandantes que se lançaram a perseguir e vigiar o oceano atrás de supostos submarinos, um destes é documentos de pilotos do aeroclube da cidade do Rio Grande no Rio Grande do Sul, que faziam missões de avistagem, o autor fala que não encontrou documentos, apenas oralidades destes pilotos que relatam ter visto submarinos alemães. 

Um dos pilotos foi Dimas Gianuca, ele afirma nunca ter avistado nenhum submarino. O piloto Luiz Ortigara, realizou voos entre 1943 e 1944 certa vez afirma ter avistado um submarino, mas não foi avisado as autoridades, o autor Filho afirma que não encontrou documentos oficiais que fizesse ligação com estas avistagem.

A partir de documentos oficiais o autor relata que houve presença de submarinos alemães no Brasil, um dado oficial é o U513 encontrado em Sã9 Francisco do Sul em SC, este foi afundado em 19 de Julho de 1943. Teve outro perto de minha cidade natal de Araranguá, que está nos registros da FAB.

Se houve navios e submarinos que foram afundados no Brasil por ataques ingleses e estadunidenses, porém não acredito que estes que passaram por aqui tinha uma missão de invadir o Brasil, como se acreditava, pois no Brasil havia colônias alemãs que tinham relações com seu país de origem, além de relações comerciais com o Brasil.

No documentário “Anauê: o integralismo e o nazismo na região de Blumenau, as pessoas entrevistadas descendentes de alemães contam que com a ascensão de Hitler na Alemanha, o füher faz uma chamada para os alemães voltarem ao seu país, que agora tinham emprego, pois estes haviam vindo para a América tentar uma vida melhor, por causa do desemprego e crise na Europa. Nessa época da década de 1930 Hitler chega a visitar o Brasil, sem nenhuma aparente ameaça, além de ter ajudado os imigrantes por aqui, pois aqui no Brasil quando chegam o Brasil os deixa largado a própria sorte, seus filhos não frequentavam escolas, pois não tinham escolas que ensinassem em alemão, Hitler enviou professores para ensinar os filhos dos estrangeiros. 

Em um documentário produzido em Santa Catarina chamado perseguições de uma outra guerra,  uma testemunha chamada de Lothar que era filho de imigrantes alemães e  aviador do Rio de Janeiro, diz que dias antes do governo brasileiro ter anunciado que submarinos alemães afundaram vários navios brasileiros, ele avistou um submarino com a suástica nazista, que tentou contato com ele, pois conseguiu entrar na onda de rádio, porém os mesmos responderam na língua inglesa, mandando o para o inferno! Dias depois ocorreu o episódio que seria o estopim para o Brasil declarar guerra a Alemanha em 1942.

A questão é que segundo os indícios, como referências que citei, testemunhos daquela época, livros atuais de historiadores brasileiros, não existem provas que a Alemanha queria invadir o Brasil, acredito que possa ter vindo em terras brasileiras navios e submarinos alemães, mas nenhum teve a intenção de atacar o Brasil, pois não existe evidências destes fatos.

Os ataques de submarinos alemães que o governo brasileiro anunciou em 1942, teve graves consequências negativas aos imigrantes em terras brasileiras, porém com o testemunho de Lothar, cabe a reflexão se não poderia ser um ataque forjado para colocar o Brasil na guerra e cortar vínculos do país com a Alemanha, principalmente nas relações comerciais, que tanto incomodava a Inglaterra e os Estados Unidos.

Com certeza esses boatos eram apenas uma jogada política dos ingleses e britânicos, pois o documento enviado ao Brasil recebido por Dutra que citei acima, que antes mesmo da segunda guerra mundial começar em 1939 os britânicos já falavam e alertavam o Brasil de uma possível invasão alemã, que nunca aconteceu.

Nenhum historiador brasileiro atual acredita em uma invasão, como citei o documentário de Marlene de Fáveri, o historiador Nelson Adans Filho, Giovanni Laftalla, outra referência é o historiador gaúcho René Gertz no artigo “ A segunda guerra mundial nas regiões de colonização alemã no Rio Grande do Sul”, todos estes pesquisadores acreditam que não existiu um projeto de invasão ao Brasil.

A história oral começou a ser usada como método na história no século XX, rompendo com o método positivista, a história oral é “fontes orais são memórias vividas por indivíduos, não pode ser considerada uma prova precisa” pois remetem a memórias individuais. Não se pode afirmar dentro da história a partir de oralidade, fatos e verdades, mas através das fontes testemunhais e escritas podemos fazer reflexões e aproximações de um determinado fato.

A partir das referências citadas acima, acredito que estes boatos partiam da Inglaterra e dos Estados Unidos, que temiam uma aproximação do Brasil com a Alemanha, mas que isso nunca chegou a ser pensado pela Alemanha.


Referências:
História oral como fonte: problemas e métodos. Júlia Silveira Matos/ Adriana Senna).
A II guerra entre nós no sul do Brasil. Nelson Adans Filho. 
Relações militares entre Brasil X EUA de 1939 a 1943. Giovanni Laftalla. 
A invasão da ilha de Santa Catarina com Marlene de Fáveri.  Disponível: https://m.youtube.com/watch?v=25tLsF-b1yY
Documentário Perseguições de uma outra guerra.

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