O genocídio esquecido durante a segunda guerra Mundial no Sul do Brasil.

 


Os aliados foram severos em punir os crimes do bloco inimigo, porém muito de seus crimes saíram justificados e outros silenciados.

Conforme a definição da ONU acerca do crime de genocídio, os crimes ocorridos no Sul do Brasil com a campanha de nacionalização do estado novo de Getúlio Vargas se enquadra no genocídio, porém foram ocultados da história, da mídia, dos currículos escolares, proponho aqui possíveis interpretações do porque teria caído no esquecimento tais crimes.

Vamos aos detalhes, desde final do século 1800 que se cria um Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, para contar a história da nação brasileira, com projeto de nacionalização do Brasil, as colônias alemãs e italianas começam sofrer perseguição território brasileiro, porém só irá se consolidar o projeto de nacionalização no estado novo de Getúlio Vargas.

Em 1870, com a anexação de estados ao império alemão, começa a se contornar um dito "perigo alemão" em território brasileiro, pois acreditava se que por haver muitas colônias alemães no Brasil a Alemanha poderia ter planos de anexar parte do Brasil ao seu território, porém não existem evidências suficientes que provam este fato, nem mesmo na época da Alemanha nazista tem provas que Hitler teria a intenção de anexar parte do Brasil.

Mas este era um dos motivos usados para repressão das colônias alemãs no Brasil, além de que representava um perigo ao projeto de nacionalização brasileiro, pois as colônias alemãs, tinham suas práticas culturais livremente, principalmente no quesito da educação, dentro destas colônias as escolas privadas alemães ensinavam conforme suas tradições.

A educação das colônias era um perigo eminente, foi o fator mais perseguido. Pois a educação sempre foi usada para moldar indivíduos na sociedade, as autoridades do governo Vargas, utilizaram desta ferramenta para a consolidação da nação brasileira, na época da campanha de nacionalização, os currículos escolares foram alterados para contar a história do Brasil, um país de várias etinas!!

Desde a época de 1920, a educação brasileira é influenciada pelo Instituto Rockfeller, após a década de 1950 à 1970, se tem acordos educacionais do MEC com o USAID, minha reflexão é relacionada que os currículos escolares deste período da época da segunda guerra mundial e no pós, são diretamente influenciados pelos Estados Unidos, é certo que eles tenham se auto positivado e denegrido seus inimigos de guerra, ao contar a história da segunda guerra mundial nos currículos escolares brasileiros, com certeza por este motivo o cotidiano repressivo as colônias alemães e italianas no Sul do Brasil ficaram de fora, pois Vargas tentou passar uma imagem que não houve violência neste período, principalmente nos campos de trabalho forçado, ou seja, campos de confinamento, porém os relatos das vítimas nos mostram ao contrário.

Além de um genocídio cultural, o Sul do Brasil foi alvo de violência física, tortura e até mesmo mortes durante a segunda guerra mundial. Na região Sul, principalmente Rio Grande do Sul e Santa Catarina, havia o maior número de colônias italianas e alemães.

Os imigrantes alemães e italianos que chegaram no território brasileiro, na promessa de melhores condições de trabalho, por conta da crise na Europa, fundam cidades, indústrias, o que foi componente principal no desenvolvimento econômico da região. Com a proposta de nacionalização brasileira, se tornam um "perigo" ao Brasil, o cenário de violência, torturas e perseguição se intensificam após 1942, quando Vargas que até este período era parceiro comercial da Alemanha, começa a apoiar os aliados. 

Umas das imposições dos aliados foi a repressão dos imigrantes no Brasil, principalmente os súditos do eixo, pois no Brasil havia núcleos do partido nazista e apoiadores, porém nem todos os imigrantes era afiliados, mas mesmo assim sofreram com a repressão, apenas por ser descendente ou imigrante de alemão, italiano ou japonês.

A campanha de nacionalização consistia em criar um país miscigenado, a nação brasileira, nas colônias alemães e italianas não havia miscigenação, o grau era muito pequeno.

A ideia era reprimir todas as culturas presentes em território brasileiro, todos agora seriam brasileiros.

"Perseguição, torturas, físicas e psíquicas por parte da polícia ocorreram em grande quantidade incluindo algumas mortes" (GERTZ, pg. 22, 2015).

uma das formas de repressão da campanha de nacionalização de Getúlio Vargas, foi os campos de confinamento, que era campos de trabalho forçado, nesses campos havia uma sobrevivência sub humana, no campo de concentração do Rio Grande do Sul a Colônia Penal Daltro Filho em Charqueadas há relatos de maus-tratos acontecido incluindo uma morte, a morte relatada não provém de violência e sim de falta de atendimento médico.

O campo de Santa Rosa no RGS também há relatos de tortura física e psicológica. Em Santa Catarina, o campo de Joinville Oscar Schneider também tem relatos de violência física.

Confinar seres humanos em trabalho forçado é uma forma de violência, esses campos segundo o governo Vargas serviam para afastar os imigrantes que representavam um perigo a segurança nacional.

Mas fora do confinamento havia episódios de violência física, psicológica e humilhação por parte da polícia, pois invadiam a casa dos imigrantes, queimavam seus pertences que remetia ao seu país de origem, alguns relatos falam que se encontrassem algum papel em língua estrangeira a polícia fazia os engolir com óleo de rícino. Além de terem suas casas apedrejadas, chamavam de nazistas!!

Porém nem todos os imigrantes apoiavam o partido nazista, mas para ser preso e sofrer torturas bastava falar a língua estrangeira.

As crianças também sofriam violência nas escolas, eram proibidas de falar alemão ou italiano, além de apanhar, levar cuspidas. As autoridades brasileiras bloquearam seus bens, os deixando na miséria, roubando suas empresas, carros e dinheiro.

A polícia do governo Getúlio Vargas torturou, perseguiu  pessoas por motivação étnica no Sul do Brasil, atentando à integridade física e moral, pois houve violência e algumas acarretaram em mortes, segundo a definição de crime de genocídio da ONU, esse cenário também se encaixa no crime de genocídio. 

Em 1948, surgiu o crime de genocídio como crime autônomo adotado pelo organização das nações unidas (ONU) na convenção de prevenção e repressão do crime de genocídio, com a seguinte redação:

[....] Entende-se por genocídio usados abaixo indicados, cometidos com intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étinico, racial ou religioso, tais como: 

a)Assassinato de membros do grupo;

b)Atentado grave a integridade física e mental de membros do grupo;

c)Submissão deliberada do grupo a condições de existência que acarretarão a sua destruição física total parcial;

d)Medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;

e) Transferência forçado das crianças do grupo para outro.

Além de destruir as tradições de um povo que, os impedindo as suas práticas culturais.

Porém este crime em vários aspectos, foi esquecido ou melhor ocultado pelos próprios protagonistas. Deixando traumas, medos e rancores que segundo as vítimas não querem lembrar.


Referênccias:

Os desafios do ensino de história no Brasil. Renato João de Souza/ João Ricardo Pereira Pires.

A segunda guerra mundial nas regiões de colonização alemã no Rio Grande do Sul. René Gertz.

Memória de uma outra guerra. Marlene de Fáveri.

Os acordos MEC- USAID e seu impacto no sistema de ensino superior brasileiro. Lucas Cunha Ferreira/ Thamara Kalil de Campos Alves.

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