OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO DURANTE O PERÍODO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL EM SANTA CATARINA.




                                                                                                                                                                                                               
OS INTERESSES E OBJETIVOS DA CAMPANHA DE NACIONALIZAÇÃO NO BRASIL DURANTE O PERÍODO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.

Pouco é falado que no Brasil houve campos de concentração, campos de trabalho forçado e que diferente dos famosos campos de concentração nazista onde os líderes eram os alemães, aqui no Brasil os aprisionados eram os descendentes de italianos e alemães que apoiavam o partido nazista e viviam no Brasil, e sua função principal era afastar e reprimir a cultura desses estrangeiros residentes no Brasil que apoiavam o partido nazista e ameaçavam a segurança nacional.
Em 1939 começa a segunda guerra mundial, em 1942 o Brasil entra na guerra ao lado do bloco dos aliados, declarando guerra ao bloco do eixo (Alemanha, Itália e Japão) nazi-fascista, o governo de Getúlio Vargas apoiou os Estados Unidos com o interesse de redefinir suas relações internacionais, por este motivo os estrangeiros alemães, italianos e japoneses residentes no Brasil sofrem perseguição pelo governo Vargas. As autoridades brasileiras criaram uma política de nacionalização, esse processo de nacionalização tinha como proposta principal
4 / 12
construir um país patriota e uma identidade nacional, pois o Brasil era um misturado de várias etnias diferentes, o objetivo era unir todas em um única identidade e nação, mas o principal alvo da campanha de nacionalização foi os descendentes dos “inimigos” na guerra aqui presentes, estes passaram por um processo de abrasileiramento, com uma forte onda de repressão e perseguição à suas práticas culturais, políticas e econômicas de origem que foram combatidas em todo território brasileiro.
As autoridades brasileira por meio da campanha de nacionalização criou várias medidas de repressão, um dos meios principais desta campanha foi o ensino educacional nas escolas, pois a escola é um meio para disciplinar pessoas, neste período houve uma reforma educacional em prol dos interesses republicanos e do projeto de nacionalização, algumas escolas falavam e ensinavam a língua alemã, estas escolas foram fechadas e seus conteúdos todos modificados pela nova política, foram organizados disciplinas, conteúdos e métodos que afirmassem fatos e disputas selecionados da república criando uma cultura e identidade nacional.
Sob a perspectiva da construção e afirmação da nacionalidade o que incluía o disciplinamento das camadas populares, hipotecava-se à educação a responsabilidade hiperdimensionada “de dar forma ao país amorfo, de transformar os habitantes em povo, de vitalizar o organismo nacional, de constituir a nação”. (ZAMBONI; SILVA, 2013, p. 137)
A região Sul brasileira foi a mais perseguida pela campanha de nacionalização, pois no Sul estavam a maior quantidade de descendentes de imigrantes italianos e alemães, muitos desses eram nazistas e apoiavam financeiramente o partido nazista e viviam segundo seus costumes europeus, falavam em alemão e italiano, havia escolas que ensinavam e missas que ministravam nas línguas estrangeiras. Essas pessoas foram fortemente reprimidas, tiveram suas casas revistadas, escolas fechadas, igrejas destruídas, todos os pertences encontrado que remetia aos inimigos de guerra foram queimados, muitos tiveram pertences de família perdidos, e foram presos nos campos de confinamento, para ser preso era preciso apenas falar o idioma estrangeiro, em Santa Catarina houve três campos de confinamento, o do Timbé do Sul, de Florianópolis e de Joinville.  
Entremeadas à produção do medo, revanchismos e denúncias, eram as prisões a maior desgraça naquele momento: desde campos de concentração, delegacias e cadeias locais, até castigos e violências físicas atormentavam o cotidiano de boa parte da população do estado catarinense
5 / 12
nos anos da segunda guerra. Homens e mulheres temeram a denúncias com medo da prisão, do afastamento da família. (FÁVERI, 2002, p. 153)
Não existe registros preciso do tempo de prisão para os estrangeiros, alguns ficavam presos até o final da segunda guerra mundial, depois de soltos eram obrigados a comparecer uma vez na semana na delegacia, em alguns casos como o campo de Timbé do Sul não tem relatos de violência física, alguns depoimentos relatam que os presos trabalhavam na roça, e existe algumas fotos em que aparecem jogando canastra, descansando no jardim, mas nas lembranças das testemunhas dos campos de concentração de Joinville e Florianópolis aparecem relatos que ocorreu castigos e maus tratos físicos.  
A campanha de nacionalização do governo Vargas modificou a vida dessas pessoas, conseguiram êxito nos seus objetivos e deixaram cicatrizes nas memórias das vítimas, estes relatos encontrados em correspondências oficiais fazem parte de um lado que o Brasil viveu na guerra e que não é lembrado, talvez o assunto tenha sido ocultado da mídia de propósito.



OS CAMPOS DE CONFINAMENTO NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Em Santa Catarina teve três campos de confinamento, na região do Vale do Araranguá, em Joinville e em Florianópolis. O Timbé do Sul no Vale de Araranguá era pequena comunidade de colonização italiana.
No Vale do Araranguá havia uma comunidade do interior alemã, Itoupava, havia uma igreja luterana ali instaurada, onde o pastor era alemão nato, tinha chegado em 1935 em Santa Catarina, Fritz Göhering era suspeito de manter contato com a Alemanha e apoiar o nazismo, além de “divulgar” a doutrina do nazismo através das missas, sua igreja foi fechada e sua casa foi vasculhada, queimaram todos os pertences que ele guardava que remetia a sua descendência, como fotos pessoais de sua família, ele foi preso no campo de confinamento do Timbé e logo depois foi mandado para ao confinamento de Florianópolis.
A população dessa região começou a ser inspecionada severamente, as pessoas eram presas por apenas falar alemão ou italiano, ouvir rádios nessas línguas, ou apoiar de alguma forma o partido nazista eram formas de manifestar- se contra o governo brasileiro, apenas o fato de ser descendente de estrangeiros já era motivo de
6 / 12
perseguição e detenção, além de ser presos eram queimados todos os objetos que eram considerados “subversivos” como jornais, revistas, cartas na língua italiana e alemã.
Naquele período, as prisões baseavam- se na lógica da suspeição, sendo que qualquer coisa poderia servir como motivo para incriminar o ‘inimigo’, ou seja, primeiro buscava-se prender e depois investigar se o preso tinha ou não culpa. (ZANELATTO, 2013, pg. 12)
Nas lembranças de João Francisco Arnold que presenciou este período, ele relata como acontecia as prisões, Arnold era brasileiro, mas seus pais eram alemães chegaram no Brasil em 1924, ele fala sobre o episódio triste do dia que seu pai foi preso.
Pelo Decreto, nenhum alemão ou italiano poderia permanecer dentro de uma faixa de quarenta quilômetros em nossas fronteiras, e deveria ser removido mais para o interior, em local determinado, onde ficaria confinado, até o final da guerra, e eu me lembro muito bem do dia em que, dois policiais militares, uniformizados e portando fuzil, chegaram a nossa casa lá na beira do rio Itoupava, procurando pelo meu pai. Eles falaram comigo, eu lhes disse que estava doente, de cama, eles mandaram chamar, ele levantou e os recebeu em nossa sala, e eles lhes entregaram a ordem judicial que determinava a ida, no dia seguinte, até a Delegacia de Polícia de Araranguá, a fim de fazer um salvo conduto, e munido deste, em dia marcado, se apresentar a Polícia de Lages, Curitibanos ou Bom Retiro, onde ficaria confinado até segunda ordem. Eu tinha na ocasião 13 anos de idade, nós morávamos lá na costa do Rio Itoupava, meu pai estava doente, de cama, quando chegaram dois policiais militares, fuzil na mão, baioneta calada, querendo falar com meu pai. [...]. O pai doente, asmático incurável, a mãe grávida de oito meses (ou nove), um monte de crianças pequenas, pobreza extrema, tudo esfarrapado, de pé no chão, barriga cheia de vermes, sem dinheiro sequer para comprar o mínimo necessário até para sobreviver, sem saber como fazer para chegar a um dos locais acima indicados, foi um desespero, um Deus nos acuda. Mas Lei é Lei, tem que ser cumprida, e no dia seguinte, eu como intérprete, pois o pai não falava brasileiro, fomos juntos com outros alemães à Delegacia de Polícia de Araranguá, e até frente ao Juiz de Direito, para fazer um salvo conduto, documento indispensável para a viagem, e saber como fazer, de onde tirar dinheiro para viajar, e coisas deste gênero, aí o nosso Juiz de Direito, vendo o absurdo da situação, determinou que o local do confinamento fosse mudado para Timbé do Sul, na Serra da Rocinha, o que ficava bem mais fácil, bem mais perto, a condução por conta própria e o resto, alimentação, igualmente por conta de cada um. Assim, [de]
7 / 12
forma resumida, ocorreram os fatos. Os confinados se reuniram e decidiram viajar todos juntos, em duas carroças, e como o local da parada deles lá ficou por conta deles, decidiram ir morar nas terras [...], numa encosta do morro, derrubaram o mato, para o plantio do milho, lavoura esta que foi feita, e mais adiante, quando eles ganharam a permissão para esperar o fim da guerra em suas casas.  De acordo com ARNALD (1986, p.46-48 apud ZANELATTO, 2013, p. 12).  
Os confinados do campo do Timbé do Sul, não possui registro de violência física, no sentido de tortura e espancamento, o castigo era o trabalho, os presos eram obrigados a trabalhar na roça, muitas vezes conseguiam escapar do trabalho e ter algumas horas para descansar no jardim, jogar canastra ou bocha. O objetivo das autoridades eram apenas reprimir a cultura dessa comunidade que representava um perigo para a segurança nacional.
A penitenciária de Trindade em Florianópolis, concentrava mais os ditos “presos políticos”, ou seja, as pessoas que eram afiliados ao partido nazista. Segundo relatos contidos na tese da professora Marlene de Fáveri mostram lembranças das testemunhas de viveram este momento de medo e miséria, um caso foi o de Hanz Niemayer, morava no Vale do Itajaí, foi preso durante a segunda guerra mundial, sua mulher relata como aconteceu, Hanz foi preso por estar bebendo cerveja enquanto dois navios afundam com dois ilustres marinheiros brasileiros, pois havia o jornal O povo noticiado o ocorrido, Hanz se defende dizendo que seu rádio estava estragado, mas no próximo dia soube do ocorrido e proibiu os filhos de sair na rua, para não dar causa as provocações.  
No dia 18 de agosto meu marido ainda foi colocar os letreiros e ficou pronto as 10 horas, como ele estava com sede ele queria tomar uma cerveja e convidou um brasileiro especialista em rebocar de Curitiba(...) e depois de ter acabado a mesma eles esperaram no Instituto a vinda dos engenheiros se ele ainda tinha ordem para a inauguração, logo depois chegou e comunicou que a inauguração não feita porque cinco navios brasileiros foram afundados, meu marido que não sabia de nada porque não tinha ouvido as notícias primeiramente, porque como se deixa provar nosso rádio tinha um defeito e já não funcionava a desde três semanas e segundo pelos serviços não tinha tempo (...) foi retamente para a casa contar mais o caso e proibir os filhos de sair na rua como ele mesmo também ficava em casa porque ele não queria que algum de nós dava causa para provocações. (FÁVERI, 2002, p. 154)

8 / 12
A esposa do detento Gertudes Hanz recorreu ao inventor Dr. Nereu Ramos um pedido para soltar o marido pois não tinha como sustentar a família, pagar os impostos da oficina e pagar aluguel, argumenta que seu marido foi preso sem provas, isso ocorria com todos os estrangeiros, primeiro eram presos, depois se averiguava o “crime”, a esposa tentou convencer as autoridades de que seu marido tinha dado uma educação nacionalista e de brasileiridade para os filhos e que ele não pertencia a nenhum partido político, mas nenhuma das defesas usadas para aliviar o marido funcionou, em 11 de novembro de 1943 quando deu entrada o processo de Hanz Niemayer, foi incriminado como participante do partido nazista, o processo de Hanz foi arquivo e o mesmo continuou preso por dois anos na penitenciária de trindade em Florianópolis.
A folha de antecedentes de Hanz o tinha como filiado à União de Artífices de Blumenau, documento que comprovava um convênio secreto entre a chefia nazista e Curt Hering, comprometendo- se a trabalhar para o nazismo, além de fotografias e cartas assinadas com “Heil Hitler”, dentre outros. (FÁVERI, 2002, p. 156)
Os estrangeiros alemães, italianos e japoneses e seus descendentes viveram um período de medo, terror e miséria nesse tempo, pois foram humilhados, perseguidos, tiveram suas lembranças e culturas destruídas que ia da sua nacionalidade até pertences pessoais, viveram um tempo de miséria financeira, pois tiveram suas contas bancárias bloqueadas e a família dos presos dos campos de confinamento ficaram na miséria, sem ter dinheiro nem para suas necessidades, além de ficarem confinados e longe da família.
Não existe provas que os estrangeiros sofreram maus tratos nos campos de confinamento, mas segundo as lembranças das testemunhas relatadas na tese da professora Marlene Fáveri, percebe se que foram momentos tão terríveis que as testemunhas não gostam nem de lembrar, Arno era um morador vizinho do campo de confinamento Oscar Schneider de Joinville, ele relembra um momento de pânico.
Na fala de Arno, o sentido desse silêncio: Era um tempo de medo de falar... não falar! Existia um hospital, e que medo de ir, de ser levado... era cadeia para os alemães. É eu não gosto de falar, parece que volta... (FÁVERI, 2002, p.172)
As famílias das vítimas acionaram a embaixada espanhola que eram responsáveis pela proteção dos interesses alemães no Brasil, as denúncias eram que os alemães estavam sofrendo maus tratos no confinamento e estavam sem
9 / 12
assistência médica. O governo Vargas tentou passar uma imagem que os campos de confinamentos não houveram maus tratos, como descreve no relatório ministério do interior em Bonn em 1944 em resposta a embaixada espanhola.
A instituição Oscar Schneider é um prédio antigo, vizinho do cemitério de Joinville. Funcionava antigamente como hospício. O local não é insalubre. A vigilância está a cargo de uma divisão de polícia, sob as ordens de um sargento, que é comandante da instituição. Os internados estão alojados em celas espaçosas. A administração fornece a cama, mas neste meio tempo os internados já puderam prover se de colchões e cobertores próprios. Em cada cela a uma mesa e um banco, há chuveiros e pias, bem como um grande salão para jogos de bastão e quintal para passeio e jogos de bolas. Os presos não são obrigados a nenhum tipo de trabalho, muitos se dedicam a trabalhos manuais. Periodicamente os internados recebem a visita de um médico. Em casos de acidentes ou doenças graves, ocorre a transferência para o hospital municipal. (FÁVERI, 2002, p. 174)
Mesmo não tendo provas e fontes que forneça informações mais precisas das condições de sobrevivência no confinamento de Santa Catarina, as memórias das testemunhas alemãs remetem a um período terrível que deixou cicatrizes de um tempo que é melhor não lembrar. Se não houve maus tratos porque esse período teria ficado marcado na memória dessas vítimas de forma tão negativa, levando em consideração que muitas dessas pessoas que foram presas porque eram afiliadas ao partido nazista e estavam em condição de inimigos e sob ordens e leis de conduta, estavam sendo totalmente controladas no confinamento, vendo por este ponto os maus tratos podem ter sido ocasionados também pela quebra das leis estipuladas dentro do confinamento.

CONCLUSÃO

Nas leituras utilizadas para concluir minha pesquisa sobre os campos de confinamentos no estado, me deparei com um outro lado da segunda guerra mundial que pouco é mencionada na mídia, o cotidiano de perseguição, opressão, medo e miséria que os alemães foram submetidos no Brasil.
A campanha de nacionalização conseguiu alcançar em partes seu objetivo de destruir a cultura alemão que era cultuada livremente e cortar vínculos dos imigrantes brasileiro com os alemães e o partido nazista, nunca mais essas pessoas retomaram sua cultura originária, na década de 1970 com a tomada de descendentes de alemães e italinos aos cargos político brasileiro teve uma tentativa de reavivar essa cultura aqui, porém conseguiu apenas uma releitura que muitas vezes teve cunhos comercias, como as festas étnicas que fomentavam a economia.

REFERÊNCIAS

ZANELATTO, João Henrique; GONÇALVES, Renan Borges. Campos de concentração/confinamento no vale do Araranguá durante a segunda guerra mundial. Oficina do historiador, Porto Alegre, v.1, nº6, p.3-22, jan/jun. 2013.

SILVA, Cristiane Bereta da; ZAMBONI, Ernesta. Cultura Política e políticas para o ensino de história em Santa Catarina no início do século XX. Revista Brasileira De História, São Paulo, v.33, nº 65, p. 135-159. 2013.

FÁVERI, Marlene. Memórias de uma (outra) guerra: Cotidiano de medo durante a segunda guerra mundial em Santa Catarina. Nº pgs. 392. UFSC, Florianópolis, 2002
A foto é dos prisioneiros do campo de Joinville.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O "perigo amarelo" no Brasil.

A história é escrita pelos vencedores?

Núcleo nazista na comunidade alemã de Itoupava no Vale do Araranguá.